Viver, sobreviver ou subviver, eis a questão.
João Wagner Galuzio
Durante milhões de anos, aos muitos
trancos e barrancos, guerras e pestes, deuses e loucos, um bichinho mamífero,
pensando que era sapiens, mostrou-se mesmo um metido a besta que se achou
suficiente demais, para querer ser mais. Inventou, com seus incríveis polegares,
armas muito simples, que logo percebeu, poderiam ser ferramentas. Tudo, armas e
ferramentas, evoluíram e se tornaram muito sofisticadas.
Nem num vou falar não dos milhões de anos dessa novela, sabe? São muitos capítulos, muitos deles com fórmulas de enredo bem dramáticas, outra grande parte é flash back. Capítulos tão lentos como desnecessários. Afinal, para que repetir tantas guerras? Uma explicação possível poderia ser a nossa motivação primária, mas permanente: sobreviver. Uma cilada onde parece que, de ‘sobre’ não tem nada, tem mais jeitão de “subviver” assim, entre arrastado e assustado. Toda essa extraordinária tecnologia criada nos últimos seis mil anos e, muito mais acelerada atualmente, não foi capaz de alterar os nossos cacoetes primitivos, ou lutar ou fugir.
Ainda hoje, o comportamento da galera
vacila neste diapasão, ou bitola. Mudou um pouco a prosa, lutar ou fugir parece
ter virado lacrar ou cancelar. Lacramos quando preferimos o confronto, para
manter o conforto de nossas certezas e decretamos o que pensamos como certo ou
errado. Cancelar é uma saída frágil do sujeito vulnerável que executa, liquida,
encerra ou fecha o canal de entrosamento. Pronto! Se não concordo, eu fujo e me
escondo num bloqueio, encerro o assunto e te cancelo. Muito fácil!
Ainda somos os mesmos e subvivemos
como nossos ancestrais, lembra uma música, né? Abusado me dei licença para
adaptá-la aqui à nossa treta (sic) virtual. Nas redes vamos ‘subvivendo’ um
reality show que, de realidade não sobra muita coisa. Entre zaps, caras e
books, tiques e toques, instagramos mais e vivemos menos.
Pô, qual é? Que vício é esse que nos faz usar soluções
de diálogo para confusões e monólogos. Na alegoria das cavernas, virtuais ou verticais, nos
grupos e coletivos a gente poderia unir e reunir, melhorar as conversas. Só que não, projetamos
nossas fantasias como se fosse unanimidade, uma só anima ou, uma alma só. Radicais, levamos uma iutubada na banda larga e aí,
linchados, iremos linkedir cada vez menos numa faixa estreita, em linha, quase discada,
sob ruídos cibernéticos.
Nas empresas, cavernas corporativas, muitos executivos dizem: “Olhe, nosso
principal desafio é a comunicação.” Parece isso mesmo, afinal, tenho certeza de
que, se eu lhe perguntar agora, você também diria que já teve dificuldade, até
para elogiar. Pois é, ficamos tão encantados e encasquetados, que não ouvimos nada,
nem elogio. Já aconteceu contigo? Elogiar e, depois, por isso apanhar. Se já passou por isso,
fica a dica.
Desinternete-se um pouco! Sabe o que os mais
poderosos empresários dessa rede mundial valorizam, acima de tudo? A própria intimidade
e privacidade. Desconfie e esnobe um pouco os algoritmos. Seja um pouco mais
contemplativo, irá descobrir algo, superlativo, seu ritmo. Não sobreviva apenas,
super viva. Nessa vibe cabem amigos, família e, adivinhe, até aquele “qualquerista”
diferente de você. Dê um reset em todos os ismos e se lembre de ser feliz!

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